Engenharia e inovação na sociedade digital

“Uma oportunidade a todos os profissionais da área tecnológica e associados ao SEESP aprimorarem seu conhecimento.” Assim Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, saudou a realização do webinar “Engenharia e inovação na sociedade digital”, promovido pelo sindicato nesta terça-feira (25/8) em seus canais no Facebook e Youtube.

 

Com a participação dos professores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) José Roberto Cardoso – coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP – e Leopoldo Yoshioka, do Departamento de Engenharia de Sistemas Elétricos e integrante do Grupo de Eletrônica Automotiva e Mobilidade Inteligente da mesma instituição, a atividade se converteu de fato em uma aula de altíssima qualidade. Sob a coordenação do diretor do sindicato Gley Rosa, o webinar trouxe uma série de informações e caminhos aos estudantes da área e engenheiros no século XXI.

 

Acima, da esq. para a dir., Gley Rosa e José Roberto Cardoso.

Abaixo, Murilo Pinheiro e Leopoldo Yoshioka. (Reprodução Youtube)

 

Yoshioka inaugurou sua preleção destacando a rapidez com que ocorreram transformações, antecipando em uma década a chegada da chamada “sociedade digital” – em que a inovação é estratégica para solucionar problemas e tem o protagonismo do engenheiro, por seu “domínio do conhecimento”.

 

Para tanto, trouxe comparativo a partir do que denominou “sociedade 1.0”, há 70 mil anos, de “caça e coleta”, em que o ser humano desenvolveu “a linguagem e a descoberta”. “Passados muitos milhares de anos”, destacou Yoshioka, “chegamos à sociedade 2.0, da agricultura, da criação e começamos a construir as primeiras cidades”. A partir da troca de ideias desenvolvida com o estabelecimento do homem em uma terra e a criação da escrita, têm-se as primeiras invenções. Isso há 12 mil anos, conforme a apresentação demonstrou.

 

Leopoldo Yoshioka apresenta as transformações aceleradas que

inauguram a chamada sociedade digital. (Reprodução Youtube)

 

Em um salto, há cerca de 500 anos, “começamos a fabricar coisas. O transporte marítimo se desenvolveu muito, sobretudo em função da tração animal, força dos ventos, o comércio passou a se internacionalizar e começaram as conquistas. A tipografia ajudou a expandir o conhecimento de uma forma incrível e iniciou-se o período da investigação”. Esta foi o que Yoshioka denominou “sociedade 3.0”.

 

A “4.0” se deu somente a partir dos anos 1950. A era é da aviação, do telégrafo, das telecomunicações e começam a surgir os computadores. Já se transmitem, como apontou, os dados analógicos e se inicia a globalização. Isso tudo vai dar origem à pesquisa e desenvolvimento, “que se intensifica principalmente em função da Guerra Fria [1947-1991]”.

 

Já num período de transformação digital acelerada, Yoshioka chegou à “sociedade 5.0, inaugurada aproximadamente em 2010”. Nos anos seguintes, destacou, “houve avanços incríveis em inteligência artificial, computação na nuvem, aplicações em smartphones, internet das coisas, big data, robotização. E o que está acontecendo de forma rápida é a digitalização de quase tudo. O mundo se virtualiza e entra fortemente o conceito de inovação”.

 

Nesse sentido, tendo como fonte o site Visual Capitalist, ele demonstrou o tempo que levou para cada tecnologia alcançar 50 milhões de usuários, desde o avião e o automóvel – respectivamente 64 e 62 anos – até a internet e o Facebook – sete e quatro anos –, chegando a apenas um ano (WeChat, rede social mais difundida na China, semelhante ao WhatsApp) e a surpreendentes 19 dias (PokemonGo). “No processo de transformação digital tudo se acelera”, resumiu. E continuou: “Outro exemplo é a evolução de celulares e redes de transmissão de dados. De 1980 a 2010, ou seja, em apenas 30 anos, tem-se cinco gerações tecnológicas.”

 

O resultado, como explicou Yoshioka, é que em um século – 1900 aos anos 2000 – os dados e informações passam a circular mais rápido do que os produtos e pessoas. “Chegam ao Japão e aos Estados Unidos em menos de um segundo”, frisou.

 

Conforme sua explanação, isso muda desde a forma como as pessoas se relacionam e interagem, até o modelo de trabalho em equipe, consumo, mobilidade e ambiente de negócios, com o aparecimento de 30 tecnologias a partir do ano 2000 – uma evolução das inovações que surgiram em meio a essa transformação acelerada.

 

 

Crise e oportunidade

 

Essas mudanças trazem benefícios, como salientou, “mas também novos problemas”, sobretudo relativos a segurança e privacidade dos usuários. Yoshioka observou, por exemplo, que nesse período de pandemia ampliaram-se os ataques cibernéticos.

 

Resolver isso, enfatizou, “vai exigir mais inovação, e o engenheiro, com sólido conhecimento, tem uma grande oportunidade nessa era de transformação digital, em todas as áreas”. Um dos impulsionadores, para ele, é a própria “dor por que estamos passando em meio a essa crise sanitária”. Por fim, Yoshioka ensinou: “Boa inovação não se faz sozinho. Exige trabalho em equipe multidisciplinar e resiliência, ou seja, paciência para não desistir.”

 

Na ótica de Cardoso, a sociedade digital traz sistemas bastante complexos – eleitoral, político, bancário e outros –, os quais podem representar dificuldades para sua utilização e exigem novas habilidades, competências e perfil comportamental.

 

José Roberto Cardoso: engenheiro precisa ter novas

competências e qualidades. (Reprodução Youtube)

 

“A virtude mais importante do ser humano é a flexibilidade. O engenheiro tem que estar aberto a todos os conhecimentos, ser pró-ativo, não ficar aguardando ordens, ter raciocínio crítico, escrever bem”, acrescentou. Portanto, conforme ele, não adianta mais somente ter um bom coeficiente de inteligência (QI), mas “o que vai levar ao sucesso atualmente é ter inteligência emocional, empatia, saber se controlar”.

 

Concordando com o professor José Carlos de Souza Jr., reitor do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, Cardoso ressaltou que as novas tecnologias, como a internet das coisas, são “o novo petróleo a ser extraído”. Ou seja, propiciam a obtenção de “informações corretas a partir da imensa massa de dados”.

 

Nessa linha, nova postura dos profissionais se torna fundamental. “O Fórum Mundial de Engenharia, órgão ligado à Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], estabeleceu o que chamo de receita para o bom engenheiro. É um conjunto de 12 qualidades, como domínio de ferramentas computacionais, comportamento ético e boa comunicação”, mencionou.

 

E complementou: “O engenheiro precisa estar preparado para enfrentar este cenário que a sociedade 5.0 está exigindo. Antes bastava ter competências técnicas, hoje é necessário saber trabalhar em equipe e enxergar o que é preciso fazer para melhorar o desempenho da empresa.” Trazido por Cardoso, exemplo da multidisciplinaridade exigida  é o desenvolvimento do ventilador pulmonar de baixo custo para atender pacientes com Covid-19 desenvolvido na USP – que revela ainda a importância de se buscarem parcerias.

 

Também no Fórum Mundial de Engenharia, revelou o coordenador do CT do SEESP, foram apontadas 13 competências necessárias, que abrangem: o profissional ser “um avaliador de soluções, ter gestão ativa, desenvolvimento profissional contínuo, senso crítico e responsabilidade por suas decisões”.

 

Cardoso considera ainda fundamental trabalhar com a visão de contribuição à sociedade, ao encontro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) apresentados pela Organização das Nações Unidas para serem cumpridos até 2030.

 

Yoshioka finalizou com a sabedoria japonesa: crises, como a sanitária na atualidade, são ameaça, mas também oportunidade “de se pensar a inovação como uma das frentes”. Nesse caminho, “vem em primeiro lugar fazer o que você gosta. Em segundo, trazer um bem para o mundo e em terceiro, beneficiar-se com isso, ganhando dinheiro, o que tornará possível ajudar mais e ampliar os horizontes”.

 

Assista o webinar “Engenharia e inovação na sociedade digital” na íntegra:

Soraya Misleh / Comunicação SEESP

 

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